Estudo aponta circulação do vírus Oropouche em comunidades do Amazonas

Pesquisadores avaliam como a degradação ambiental e o modo de vida amazônico influenciam a propagação do vírus Oropouche e outras arboviroses

Mais da metade dos cerca de 300 moradores de comunidades localizadas ao longo da BR-319, estrada que conecta Manaus a Porto Velho (RO), apresentou anticorpos do tipo IgM contra o vírus Oropouche (OROV) em exames sorológicos realizados recentemente. O resultado sugere que essas pessoas tiveram contato recente com o vírus, uma vez que o IgM é produzido nos primeiros dias da infecção e pode ser identificado até 90 dias após o início dos sintomas.

Os testes fazem parte de uma pesquisa conduzida pela Fiocruz Amazônia, em parceria com a Unicamp (SP) e o Instituto Evandro Chagas (PA). O estudo percorre um trecho de aproximadamente 800 quilômetros da rodovia e busca identificar a circulação de diversos patógenos, entre eles dengue, chikungunya, febre Mayaro e hantavirose.

O projeto integra o conceito One Health (Uma Só Saúde), que avalia de forma conjunta a saúde humana, animal e ambiental. A ideia é entender de que forma a degradação da floresta, o modo de vida das comunidades locais e as transformações ambientais podem favorecer o surgimento e a propagação de doenças infecciosas.

As expedições de campo, realizadas em comunidades como Igapó Açu e Realidade, duram em média 20 dias e incluem coleta de sangue, entrevistas e ações educativas. O Oropouche, transmitido por insetos conhecidos como maruim, preocupa especialistas pela semelhança dos sintomas com outras arboviroses e pela expansão recente para além da Amazônia, após epidemias registradas em 2023 e 2024.

Coordenado pelo pesquisador Pritesh Lalwani, o projeto pretende oferecer subsídios para políticas públicas de saúde. A expectativa é que os resultados ajudem a compreender como o avanço humano sobre o meio ambiente pode criar condições para novos surtos e orientar estratégias preventivas.