Ato de insubordinação reforça clima de intimidação entre moradores e levanta questionamentos sobre a impunidade dentro da corporação
Menos de 24 horas após o Comando do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas (CBMAM) anunciar o afastamento do tenente Antônio Ferreira de Oliveira Junior, acusado de agredir a moradora Giselle Etelvina Silva Martins, o oficial voltou ao condomínio onde ocorreu o episódio — vestindo novamente a farda da corporação e carregando o filho nos braços, em uma aparente tentativa de se blindar de novas reações.
A cena, presenciada por moradores e trabalhadores da obra que originou a confusão, foi interpretada como um ato de afronta direta às ordens superiores do Comandante-Geral do CBMAM, coronel Orleilso Ximenes Muniz, e às declarações do Secretário de Segurança Pública, coronel Marcus Vinicius Almeida, que haviam confirmado o afastamento do militar enquanto o caso é investigado.
A atitude do tenente, portanto, configura flagrante descumprimento das determinações da cúpula da segurança pública estadual, além de violar normas internas da corporação sobre o uso de fardamento — estabelecidas no Boletim Geral nº 162, de 29 de agosto de 2023, que regulamenta de forma detalhada a composição, posse e uso dos uniformes dos bombeiros militares.
Segundo o documento, o uso do uniforme é restrito a atividades operacionais, solenidades e funções administrativas, e só pode ocorrer mediante autorização e dentro das dependências da corporação ou em serviço designado. O retorno do oficial fardado a um ambiente privado e em meio a um conflito pessoal, portanto, caracteriza uso indevido do uniforme e desrespeito às normas disciplinares.
Moradores relataram à reportagem que o tenente circulou pelo condomínio com postura intimidadora, mesmo após o afastamento, o que tem gerado medo entre os condôminos.
“Foi uma provocação clara. Ele sabe que está sendo investigado, mas parece não temer as consequências. Age como se estivesse acima da lei”, disse uma moradora, sob anonimato.
O episódio reforça o sentimento de impunidade e abuso de autoridade, levantando dúvidas sobre o cumprimento das medidas anunciadas pelo comando e sobre a eficácia dos mecanismos de controle disciplinar da corporação.
Enquanto a Polícia Civil segue com o inquérito e o Corpo de Bombeiros afirma que o caso será apurado no âmbito administrativo, a comunidade cobra respostas concretas e punições exemplares.
“Se mesmo afastado e sob investigação ele continua usando a farda para intimidar, o que podemos esperar quando as câmeras não estiverem ligadas?”, questionou outro morador.
A conduta do tenente, somada à reincidência em episódios de intimidação e declarações ofensivas anteriores, expõe um desafio maior para as instituições: garantir que a farda volte a representar proteção, e não poder pessoal.