O caso gerou revolta entre profissionais da comunicação, que classificaram a atitude do parlamentar como um grave ataque à liberdade de imprensa
O plenário da Câmara Municipal de Itacoatiara, município distante cerca de 270 quilômetros de Manaus, foi palco de um episódio de tensão e autoritarismo na noite desta terça-feira (14).
O vereador Igor Magalhães ordenou que o jornalista Melk Santos, do Portal Online Multimídia, deixasse o local, ameaçando algemá-lo caso desobedecesse. A cena, presenciada por outros vereadores e registrada em vídeo, rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais.
A confusão ocorreu durante uma sessão plenária que decidiu pela manutenção do mandato do vereador Jucinei Freire da Silva, conhecido como Ney Nobre (MDB), condenado pela Justiça Federal a 10 anos e 4 meses de prisão por envolvimento em fraudes relacionadas a financiamentos rurais do Banco da Amazônia (Basa), por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Apesar da sentença, o parlamentar poderá recorrer em liberdade.
Durante a votação, Igor Magalhães fez críticas aos veículos de comunicação digital, insinuando que muitas informações publicadas não seriam confiáveis.
“Eu peço para as pessoas que estão assistindo que não acreditem em tudo que se passa em portais, em lives. Quer saber como anda o procedimento? Que venha a esta Casa, que assista. Hoje qualquer um abre um portal e dá como verdade”, declarou o vereador, gerando reação imediata do jornalista.
Sentindo-se ofendido pela fala, Melk Santos tentou se manifestar, mas foi interrompido e advertido por Igor Magalhães, que ordenou sua saída do plenário. Em tom exaltado, o parlamentar ameaçou:
“Eu peço que você se retire, senão será algemado.”
Constrangido, o repórter acabou deixando o local. Em entrevista após o ocorrido, Melk afirmou que reagiu à fala depreciativa do vereador em defesa da categoria jornalística.
“Quando ele citou portais, eu me levantei e pedi a palavra. Foi quando o presidente disse: ou você fica calado, ou sai da Câmara. Ele falou que quem manda na Câmara são os vereadores, e eu respondi que quem manda é o povo. Quando retornei, eles já estavam atacando a imprensa. Se vocês, como parlamentares, não sabem lidar com cobrança, então peçam para sair”, declarou o jornalista. Melk também disse ter se sentido humilhado pela forma como foi tratado.
“A gente só serve em época de eleição, quando precisam da imprensa para divulgar o trabalho deles? Quando é para cobrar transparência, somos atacados?”, desabafou.
O episódio gerou indignação entre jornalistas e comunicadores locais, que classificaram a atitude do vereador como uma tentativa de censura.
A liberdade de expressão e de imprensa é assegurada pela Constituição Federal, nos artigos 5º, inciso IX, e 220, que proíbem qualquer forma de restrição, censura ou interferência estatal na atividade jornalística.